quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Portimão e a pesca da sardinha

(…) Portimão continua a ser, ainda hoje, o terceiro porto sardinheiro do país, atrás de Leixões e Peniche. Mas a actividade está em crise. Não só por causa das políticas restritivas da União Europeia, que têm apoiado mais o abate de embarcações do que a sua modernização, mas também devido ao próprio estado do recurso e à procura que ele tem ou deixa de ter. Carlos Vital revelou que a uma subida quase contínua na tonelagem de sardinha capturada entre 92 e 97, tem-se seguido, nos últimos anos, uma queda acentuada, e "este ano as coisas têm andado particularmente mal". Telmo Gil, em representação da Barlapescas, empresa que controla cerca de 70% da sardinha vendida na lota de Portimão, o que a leva a deter à volta de 20% da cota nacional (e 16% da cota das vendas à indústria conserveira), concorda. "Falta peixe e falta mercado", diz, "por causa da situação das conserveiras". E acrescenta que o pior está ainda por vir. "A Associação Nacional da Indústria Conserveira prevê cortes nas compras já no próximo ano. E nos últimos dois anos, os cortes nas compras ascenderam a cerca de 20 mil toneladas". Quanto ao peixe, o problema não é a ausência, mas sim a qualidade. "Há sardinha", diz Gil, "mas há muita sardinha pequena que não tem valor comercial". É provavelmente uma consequência de um fenómeno que tem vindo a ser estudado pelos cientistas ligados à pesca, relacionado com as medidas de protecção dos recursos que estabeleceram uma determinada malha mínima da rede a fim de não capturar animais demasiado jovens, e deixar que os peixes se reproduzam, mantendo assim o stock. Acontece que aparentemente estas medidas têm tido em várias espécies o efeito perverso de favorecer a sobrevivência dos animais de menores dimensões em detrimento dos maiores, que são pescados em maior quantidade, diminuindo assim a dimensão média dos peixes. Numa analogia canina, é como se durante gerações se fossem matando todos os cães que atingissem um certo tamanho: ao fim de algum tempo só restariam caniches.(…)

in Região Sul

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