terça-feira, 23 de setembro de 2008

Fim de Agosto


Numa praia perto de si, estes (ainda) pescadores puxam as redes como os seus antepassados há vários séculos. Preocupo-me com a renovação demográfica desta população, mas eles não: atrás do tractor, vem um jovem louro, com os cabelos salgados e uma argola de prata na orelha. Há gestos que não se perdem.
Na praia aproximo-me, há uma roda perfeita de veraneantes, curiosos e clientes, que esperam pelas cavalas, carapaus, e outras sortes que o mar queira trazer.
Não tenho saco nem balde de praia, lá atrás as duas meninas riem nas suas adolescências e acabam por se aproximar, curiosas.
Quanto é o quilo?
Os pescadores não têm pressa, mas todos os gestos são rápidos e revelam impaciências. Colocam-se os tabuleiros, e dividem-se as familias dos peixes. Alguns caranguejos são atirados para a areia, triste sorte.
Pois não sabe menina que na praia o peixe tem outro pesar. 10 sardinhas 5 euros.
No meio da multidão, conquisto o meu saco de plástico com dez sardinhas semi vivas.
Lembro-me ainda de uma vinda à noite aqui ou noutro bocado da praia, o barco a chegar, e as luzes dos candeeiros a gaz, as vozes das pessoas que não se viam, mas adivinhávamos aqui e ali, e a minha mãe. Tenho saudades. Quero que estes momentos durem e durem e que os meus filhos, os filhos dos filhos deles, continuem a regatear as sardinhas à meia-lua.

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